Como o senhor viu o pedido de exoneração do secretário Ermes Costa feito pelo diretório municipal do PT?
Eu nunca fui procurado para discutir essa substituição do secretário de Habitação da Prefeitura do Recife Ermes Costa. Até porque eu estava em missão dada pelo PT numa viagem à China. Nós sabíamos que havia a necessidade do PT municipal fazer uma avaliação de sua participação na Prefeitura do Recife, mas eu não tenho dúvida nenhuma de que essa imposição de uma maioria não é em virtude de dificuldades na gestão de parte do secretário.
Qual a intenção do comando diretório municipal de pautar uma discussão tão importante sem comunicar algumas das principais lideranças da sigla como o senho e o senador Humberto Costa? O diretório não deveria servir para unir e pacificar a legenda?
É, simplesmente, pelo fato de eu ter me colocado à disposição como pré-candidato a vice-prefeito para composição da chapa majoritária para as eleições municipais no Recife. A partir daí, se reconfigurou um novo bloco no PT que se utilizou da força de uma maioria para tentar impor essa decisão sem um amplo debate. Eu não tenho dúvidas de que se eu estivesse em conjunto com grupo do senador Humberto Costa, dos deputados estaduais e dos vereadores apoiando o nome de Mozart Sales, essa proposta jamais teria sido ventilada.
Esse tipo de ofensiva do diretório municipal não acaba fragilizando o PT, dividindo o partido e enfraquecendo o partido diante do PSB no contexto das eleições deste ano?
Uma decisão verticalizada e desrespeitosa como essa tem o propósito claro de abrir um processo de divisão interna no PT provocada por aqueles que querem fragilizar nosso partido e lhe sequestrar o lugar de protagonista das eleições no Recife.
O prefeito João Campos foi comunicado da decisão do diretório municipal. Ele buscou vocês para dialogar sobre o tema??
Essa decisão imposta por uma maioria da direção do PT do Recife de substituir o secretário de Habitação Ermes Costa traz sérios constrangimentos, principalmente, para o prefeito João Campos, que fica numa situação bastante delicada entre aceitar ou não uma imposição de afastar um quadro indicado pelo senador Humberto Costa, por mim, pelos três deputados estaduais do PT Rosa Amorim, Doriel Barros e João Paulo, por dois vereadores do PT do Recife, Liana Cirne e Jairo Brito. O prefeito teve a ombridade de entrar em contato com o senador Humberto Costa e esperamos que ele tome sua decisão ouvindo as considerações de HC.
Qual postura o senhor acredita que o prefeito deve adotar?
O prefeito João Campos tem a inquestionável prerrogativa de escolher o seu secretariado, compreendendo que se ceder às pressões do DM-Recife estará automaticamente impossibilitando a participação do campo político composto pelo senador Humberto Costa, por mim, pelos três estaduais e pelos dois vereadores do Recife. Em resumo, cabe ao prefeito João Campos decidir se quer ou não a nossa participação em seu governo. Quanto a nós, não almejamos participar de nenhum espaço que não nos queira, que não nos caiba. Só estaremos na gestão municipal do Recife se nos couber. Caso contrário, a gente continuará fazendo a militância do PT para contribuir com uma vida digna e próspera para o povo recifense independentemente de estarmos ou não dentro do governo municipal.
Atualmente, seu nome e o de Mozart Sales estão colocados no debate interno do PT para a vice de João Campos. Podemos ter a definição de um candidato único em breve para evitar uma divisão e disputas na legenda?
Eu sou um militante do PT desde os 16 anos de idade. Ao longo de mais de 20 anos de militância sempre acatei as decisões do meu partido, tendo em vista os projetos coletivos que elevavam nosso protagonismo político. Minha história comprova que eu sempre estive e estarei à disposição para a construção da unidade política, mas com a utilização da força da maioria de forma truculenta não se constrói unidade. Quanto ao tempo de definição do nome, isso não depende apenas do Diretório do PT do Recife, depende sobretudo do presidente Lula, que olha o desenho político nacional e do próprio PSB, que ainda não abriu oficialmente o debate sobre a vaga de vice-prefeito do Recife.
Como você viu o movimento de João Campos de filiar secretários a outros partidos. Isso afeta a pretensão do PT de ter a vice?
Isso faz parte do ritual da política e os secretários são lideranças expressivas, que podem se filiar aos partidos com os quais mais se identificam e cujos nomes devem ser considerados nas eleições municipais deste ano. Uma coisa é certa, nós vamos seguir militando para que o PT garante deu seu protagonismo neste pleito de 2024, seja qual for o desenho político.
O texto complementar da reforma tributária chegou no Congresso. Como o senhor avalia que será a tramitação diante das recentes arestas entre o governo e os parlamentares.
Já dialogamos previamente com estados e municípios justamente para que o Congresso possa receber um texto bem costurado a fim de que a deliberação seja mais ágil. Fizemos uma série de ajustes e melhoramos a proposta em todos os campos possíveis, mas não abrimos mão da questão central que define que os mais ricos devem pagar mais impostos e que é necessário retirar impostos da cesta básica para que as pessoas mais pobres tenham acesso à alimentação. Assim, apresentamos um redação factível para aprovação, que com ajustes da Casa, acredito que deverá ser aprovada até o fim do ano.