Biografia comemora os 110 anos do nascimento de Luiz Gonzaga

Nesta semana será celebrado em Exu, sertão pernambucano, os 110 anos de um dos maiores artistas da história da música popular brasileira, Luiz Gonzaga, nascido na minúscula cidade em 13 de dezembro de 1912. A data redonda enseja celebrações e uma das mais importantes é o livro lançado pelo pesquisador Paulo Vanderley, intitulado “Luiz Gonzaga 110 anos do nascimento”.

O livro é um produto incomum no Brasil. A obra vem inserida numa caixa em que o fã é presenteado com cartazes de shows, capas de todos os LPs e rótulos de todos os compactos gravados pelo rei do baião, além de réplicas de documentos pessoais de Gonzagão.

Financiado por leis de incentivo à cultura e empresas privadas, o livro é magistral. De tamanho grande, com 110 fotos do artista, 110 reportagens históricas sobre Gonzaga e 110 depoimentos do próprio rei do baião, trata-se de uma obra fruto do esmero, paciência e dedicação de um autor-fã. As informações são da coluna do doutor em História, Gustavo Alonso, na Folha de S. Paulo.

O mais interessante da obra de Vanderley é sua interface digital. Ele coletou entrevistas em áudio que Luiz Gonzaga concedeu ao longo da vida e transformou em texto corrido, como se o próprio Gonzaga contasse sua história.

Em cada página há um QR Code para que o leitor ouça Gonzagão contar sobre sua infância sertaneja no sertão nordestino, o período em que esteve no Exército, a dura vida antes da fama e o sucesso do baião no Rio de Janeiro. Trata-se de uma obra artesanal, mas de qualidade profissional, que não está sendo vendida em livrarias, mas pela internet.

Vanderley é um pesquisador benquisto no meio do forró. Gerente do Banco do Brasil em Fortaleza, é um colecionador de relíquias da família Gonzaga. Nascido em Piancó, na Paraíba, em 1979, era figura conhecida da internet devido aos sites Gonzaguinha.com.br, criado em 1998, e LuizLuaGonzaga.com.br, montado em 2006.

Sua ligação com a família Gonzaga vem desde o fim dos anos 1980, quando seu pai, Paulo Marconi, também gerente do Banco do Brasil, foi transferido para Exu. Como figuras eminentes da minúscula cidade, Marconi e Gonzaga fizeram amizade. Quando o rei do baião morreu, em 1989, Vanderley filmou o velório com uma câmera amadora de seu pai. Já adulto, tornou-se um dos principais amigos e confidentes de Dominguinhos, considerados por muitos o herdeiro de Gonzagão na sanfona do forró.

Chama atenção o fato de que Gonzaga, além de ter tido uma vida muito interessante, conseguiu ter um rol de biógrafos para lá de competentes.

Em 1996 a francesa Dominique Dreyfus, que viveu sua infância no Brasil, publicou “A Vida do Viajante: A Saga de Luiz Gonzaga”. O livro é talvez a melhor biografia musical já escrita no país, não apenas pelo personagem, mas pelo trabalho cuidadoso da pesquisadora. Com uma escrita sedutora e muito sensível, Dominique conseguiu construir um Gonzagão humano, um gênio com defeitos e qualidades, de vida pessoal atribulada e fama inconteste.

Em 2006, a pesquisadora Regina Echeverria escreveu “Gonzaguinha e Gonzagão: Uma História Brasileira”, biografia paralela de pai e filho, que viveram uma relação conflituosa. Esta ótima obra serviu de inspiração para o roteiro de “Gonzaga: De Pai pra Filho”, lindo filme de Breno Silveira. Bem aceito por público e crítica, Breno Silveira conseguiu, como já havia feito em filmes anteriores, fazer dialogar o Brasil popular dos interiores e os dramas freudianos das classes médias refinadas e cultas, fazendo a ponte entre os diversos países sociais que temos dentro de nosso país.

O livro de Vanderley entra para este rol de grandes trabalhos e engrandece a trajetória de Luiz Gonzaga. Assim como os trabalhos de Dreyfus, Echeverria e Silveira, “Luiz Gonzaga: 110 Anos do Nascimento” servirá de fonte inescapável para todos aqueles que queiram entender o que foi a música brasileira do século 20.