8 DE MARÇO: POR UM DIA INTERNACIONAL DA MULHER COM CONSCIENTIZAÇÃO E RESPEITO. Adelmo Barbosa*


Quando fiz parte do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável de Flores (1997-2000), como membro fundador e coordenador, ouvi muitas vezes Dona Maria Juvenal (de Fátima), representante das Associações de Moradores daquele distrito (eram muitas, e ela foi uma das primeiras coordenadoras, juntamente com Seu Lourival – Lourão, do São José – e Valter Pereira), cantar um trecho da música que ela aprendeu no Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Sertão Central – MMTR, “Sou mulher e me confesso consciente”.

No meio da música, uma estrofe diz: “Sou mulher explorada duas vezes, como classe e como sexo também. Nossa luta tem que ter muita certeza, pra acabar com a exploração que se mantém.

No final da primeira semana de março de 2022, uma declaração sobre as mulheres refugiadas da Guerra da Ucrânia, que acontece no exato momento que este texto é escrito, chocou pela atitude estarrecedora, altamente inadequada e preconceituosa, além de desrespeitosa, sobretudo porque partiu de um representante do povo de um estado brasileiro, contra mulheres, mocinhas e meninas que correm, sem terem para onde ir, de uma Guerra que elas não provocaram.

A luta das mulheres, lá e aqui, é uma constante, e não começou apenas nos episódios dos incêndios ocorridos em Nova Iorque no ano de 1857, quando 130 mulheres morreram carbonizadas em uma indústria têxtil, porque reivindicavam melhorias de condições de trabalho e de salários. Ela se estende por antes e depois, mesmo porque a data de 8 de março só foi estabelecida em 1921, e como resposta às inúmeras lutas das mulheres, sobretudo das mais de 90 mil mulheres russas que se levantaram contra as más condições de trabalho e a luta por “Pão e Paz” durante o governo do Czar Nicolau II. Essa luta ocorreu no dia 8 de março de 1917 (23 de fevereiro pelo calendário Juliano, utilizado na Rússia).

É, portanto, uma luta de longa data e de muitas derrotas, lastimavelmente, para as mulheres e, por consequência, para as lutas sociais que se estendem dia e noite mundo a fora.

No Brasil, os índices de violência contra a mulher se espalha a olhos vistos e a sociedade parece inerte na busca por uma solução quanto ao respeito e à igualdade de gênero, num país onde quase 52% da população é feminina. 

Por um lado, já se percebem buscas e vitórias, mesmo que pequenas ainda, na constante luta para que a mulher seja respeitada como deve ser em sua essência e em sua dignidade de pessoa humana. 

As comemorações que se espalham neste dia 8 de março são muito mais que um grito de liberdade, pois são um grito de “Ei, eu estou aqui, sou mulher, sou consciente de mim, de minha luta, de minha importância social e de minha integridade pessoal, física, moral, psicológica”. “Dona de mim”, como bem diz o trecho da música “Uma nova mulher”, de Paulo Rezende e Paulo Debétio, muito bem defendida pela monumental cantora Simone.

Uma mulher que precisa e tem que ser respeitada em cada dia, em cada época, em cada cidade, cada país e em qualquer conjuntura. Seja na paz ou na guerra.

Respeito à mulher é respeitar a sua dignidade de mulher. É considerar o carinho, as flores, as mensagens como um recado dado de que nos dias seguintes ao 8 de março haverá mudança de conceito e conscientização do “combate a seguir”. Esse combate tem que ser conjunto, ou seja, de mulheres e homens. Enquanto ele for apenas das mulheres haverá sempre mais e mais busca por respeito e dignidade. Quando for de todos – mulheres e homens – ele será uníssono e constará como grito de liberdade de uma sociedade inteira, onde uns respeitam às outras, aos outros. Onde todos se respeitem.

A luta da mulher, expressada na voz de Dona Maria Juvenal, lá em 1997, está presente nas frentes que as mulheres sertanejas, brasileiras e mundiais encampam nos movimentos sociais, assim como na vida, pessoal e comunitária como um todo.

Dona Maria Juvenal não está mais entre nós, assim como não estão Dona Zefa Freire, Vanete Almeida e tantas outras mulheres que nos deixaram por razões diversas e no curso normal da vida. Enquanto outras nos deixaram pela violência contra a mulher em todas as faces sangrentas. Mas essa luta da “Mulher consciente” é, e deve ser, também do homem consciente que respeita a mulher sem exigir condições. Aliás, peço minhas desculpas se nesse texto agi de forma desrespeitosa com as mulheres, sou filho de uma, irmão de cinco outras, tio de uma dezena e cunhado, parente, primo, amigo, colega, companheiro de outras tantas com quem convivo desde que vim ao mundo, pelas mãos de uma mulher-parteira.

A alegria das mulheres, suas comemorações, suas festas e tudo o mais que ocorrer é parte de uma luta social que, necessariamente, tem que ser de mulheres e homens “conscientes” que deve perpassar “de geração em geração”.

Viva as mulheres do Brasil e do Mundo. Não as matemos com nossa ignorância masculina e inconsciente. Viva.



*Professor.