Mãe relata que filha de 14 anos vem sofrendo abusos em ST

Imagem ilustrativa/Farol de noticias

Nessa terça-feira (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, uma mãe, de 30 anos, moradora do bairro Borborema, em Serra Talhada, procurou o Farol após quase 30 dias que denunciou abusos sexuais que a filha de 14 anos sofreu. Segundo ela, a primeira vez a criança tinha apenas 7 anos. Insatisfeita pela falta de punição dos abusadores, a genitora diz não ver resposta das autoridades sobre os crimes praticados contra a filha, que hoje tem 14 anos.

A adolescente convivia com os traumas do abuso há 7 anos sem compartilhar suas dores com a mãe, certamente se preparando para esse momento e para denunciar, contudo, após revelar para a genitora, ainda não estava preparada para ir à justiça e pediu um pouco mais de tempo para encarar a difícil situação, mal sabia que enquanto se preparava psicologicamente passaria por um novo assédio, desta vez por alguém da família.

”Quando ela foi abusada, tinha de 7 a 8 anos e agora com 14 anos sofreu assédio também e a gente denunciou tudo em um dia. Eu só fiquei sabendo no mês de março, estava com minha mãe internada em Recife. Um homem abusou dela quando tinha de 7 para 8 anos e o irmão desse mesmo que abusou dela assediou também quando era menor. Quando eu estava em Recife com minha mãe, ela ligou para mim e contou, disse: ‘mainha, eu não aguento mais esconder, eu já sofri abuso.’ Eu consegui uma pessoa para ficar com minha mãe em Recife, vim para casa e falei com ela que a gente tinha que denunciar”, disse continuando:

”Ela começou ter crises porque tem problema do coração e pediu para eu esperar um pouco para ela se preparar para contar. Um certo dia, meu irmão chegou em casa bêbado e assediou ela. Ela me contou e eu mandei meu irmão sair de casa porque ele morava nos fundos da minha casa que tem uma casinha no muro e eu tinha cedido para ele morar. Disse a ele que não chegasse mais perto da minha filha e que não ia entregar ele a justiça porque minha mãe estava na situação que estava. Uma vez, meu ex-marido me traiu com a ex-mulher do meu irmão, como eu não queria mais voltar para ele, com raiva ele ia denunciar só meu irmão, ele nem é o pai dela, nem tem nada a ver. Então eu fui denunciar logo tudinho.”

A DENÚNCIA

A mãe resumiu o que a filha havia lhe contado sobre o dia do abuso, comentou sobre os depoimentos dado à delegacia no momento da denúncia e lamentou o fato da justiça não ter dado nenhuma reposta até presente momento acreditando ser devido ao exame sexológico ter dado negativo, algo que não isenta os culpados do crime, visto que houve abuso sexual. A genitora ainda informou que não a entregaram nenhum comprovante do Boletim de Ocorrência (BO) que ela havia feito e isso dificulta acionar o Ministério Público.

”Esse que abusou dela, queria minha sobrinha e ela foi chamar a prima, quando chegou lá ele falou que ela entrasse que a prima estava lá dentro lavando os pratos, quando minha filha entrou, ele trancou a porta, colocou a chave no bolso, puxou ela para dentro do quarto e começou a praticar o abuso. Na justiça, quando perguntaram se ele penetrou, ela perguntou: e o que é isso? Até certos dias ela não sabia e a gente foi explicando para ela e o policial perguntando se doeu, se sangrou e ela disse que não sangrou, só doeu,” relembrou.

”O resultado do exame sexológico deu negativo, acusou que ela é virgem, mas eu perguntei na justiça, só porque o exame deu negativo ninguém vai ser chamado não? E simplesmente disseram assim: ‘não, o resultado já deu negativo um dia eles vão ser chamado.’ No próximo dia 26 faz um mês que a gente prestou queixa e ninguém foi chamado. Ele [o delegado] só disse que tem que juntar provas e que um dia eles iam ser chamados, mas não me deram nem um papel que eu prestei a queixa. Eu perguntei: e não vão me dá nenhum papel sobre a queixa que eu prestei? Disseram: ‘não precisa não, fica tudo aqui.’ O depoimento da gente ficou lá, mas não me deram nenhum papel.”

DIFICULDADE DO EXAME SEXOLÓGICO

A mãe da adolescente prestou queixa na Delegacia de Polícia de Serra Talhada na segunda-feira (26) e após a coleta de depoimento, marcaram para a jovem ir fazer o exame sexológico, na sexta-feira (30), em Afogados da Ingazeira, Sertão do Pajeú. e, segundo ela, deveria ir acompanhada pelo Conselho Tutelar e alguém da justiça, porém não teve essa assistência e acabou indo por conta própria após passar horas aguardando alguém para levá-las.

”Eu fiquei lá de 7h até quase 13h esperando, na polícia dizia que não tinha viatura, no conselho dizia que não tinha motorista e ficaram um jogando para o outro. Eu perguntei: ‘moça o que é que está faltando para eu ir porque desde 7h que estou aqui e até agora não apareceu ninguém para ir com a gente? E ela falou: ‘o delegado está ligando para a prefeitura para ver se arruma um carro para levar vocês.’ Eu disse: se é só o carro que está faltando, me dê os papeis que eu vou por conta própria. Arrumei um colega meu que tem carro, paguei R$150 para ele colocar gasolina e me levar até Afogados da Ingazeira para fazer esse exame,” lamentou.

TRAUMA, MEDO E INSEGURANÇA

Ao Farol, a mãe revelou que a filha já começou A fazer acompanhamento psicológico, porém está muito preocupada com a situação, visto que além da jovem ter crises devido ao problema de coração, não está se alimentando, não dorme, tentou suicídio duas vezes e teme até pela sua vida porque um dos acusados foi até sua casa tirar satisfações.

”A família de um dos acusados tinha ido na minha porta querendo me intimidar, mas também já prestei um BO contra ele. Eles moram próximo, mas depois que eu prestei a queixa, um dos acusados, o que realmente abusou dela, saiu de lá logo quando soube que eu prestei a queixa. Mas o que eu quero mesmo é uma resposta da justiça porque, enquanto fica nisso, minha filha não pode sair de casa, as pessoas ficam com piadinhas sem graça, dizendo que ela está mentindo e isso não é bom para uma criança e enquanto a justiça não resolver ela vai continuar sofrendo”, disse continuando:

”Minha filha disse que tem medo, toda vez que eu saio de casa ela pede para orar em mim porque tem medo que alguém faça alguma coisa comigo e ela já tentou se matar duas vezes. Por isso, que tem crianças que quando são abusadas não contam porque quando vão à justiça acontece desse jeito. E ela já disse assim: ‘mainha, talvez era melhor que eu tivesse guardado isso para mim a vida todinha.’ A gente já foi ao Ministério Público, mas só tem atendimento online e como não deram nenhum papel, era para eles terem dado o número do BO ou uma segunda via do boletim para a gente ligar e passar o caso para o Ministério”, finalizou.

O OUTRO LADO

Após a mãe relatar o caso à redação do Farol, a reportagem entrou em contato com o Delegado Regional Marcos Virgínio para comentar o caso. Ele sugeriu que a denunciante lhe procure na delegacia para poderem dar maior atenção ao caso e que não se trata de falta de interesse nas investigações, mas a demora para chegar numa resposta ocorre devido a imensa demanda da Delegacia de Polícia Civil de Serra Talhada.

”A gente tem todo interesse em concluir essas investigações, só que a Delegacia de Serra Talhada é uma delegacia que tem uma demanda gigantesca. Não há a mínima condição de serem concluídas da noite para o dia, como as pessoas esperam que sejam, só que a gente também entende que elas querem justiça e é um direito delas. No mínimo ter uma investigação, que isso não significa que as pessoas que ela citou serão indiciados, condenados e etc. até porque o inquérito policial existe para verificar todas essas circunstancias, inclusive pode até ser que no final chegue a conclusão que o crime não aconteceu ou não haja provas, ou elementos suficientes para uma condenação”, afirmou continuando:

Eu sugiro que ela [a mãe] nos procure para conversar comigo para a gente dá uma maior atenção a esse caso dela. A gente tem o maior interesse em dá encaminhamento a essa investigação porque, assim como a investigação dela, nós temos milhares que também são importantes, urgentes e a gente não consegue fazer todas ao mesmo tempo. As coisas demoram não é por má-fé é porque realmente existe uma demanda muito grande e a gente está aqui trabalhando, se dedicando intensamente para que essas investigações possam ter um desfecho,” explicou o delegado.