CRÔNICA: Alberto Ribeiro – UM BRINDE À VOZ! Por Adelmo Barbosa

Foto/Cosmo Queiroz

E esse som que fica tinindo nos nossos ouvidos, tão forte que emudece a alma, corrói o coração e assusta pelo peso da veracidade da notícia. 

Sim, o que mais chama a atenção era aquele vozeirão, preparado especificamente para persuadir. Diferentemente, da que ouvíamos quando estava nas constantes brincadeiras, e na risada farta sempre que estava de bem. 

O café preparado em melhor estilo era um convite a um brinde ao paladar. Fosse em janeiro ou no natal, o toque para preparar uma xícara de café era sempre o mesmo. 

Não dá para falar do menino, nem do pré-adolescente que, ao pegar pela primeira vez no volante de um carro, orientando pelo experientíssimo Cosmo da caçamba, ao invés de tocá-lo para a frente, deu marcha a ré. Era ele mesmo quem contava com humor, essa história.

Nascido no meio de uma das famílias de mais sobrenome no Brasil, Cavalcanti, e da tradicional família Ribeiro do Saco do Romão, José Alberto Cavalcanti Ribeiro fez sucesso por quase 20 anos com o que Deus lhe deu de mais valioso: A Voz! 

Surgiu especificamente para o mundo social e, posteriormente, político, no início dos anos 2000, fazendo parte do EJC (Encontro de Jovens com Cristo) da Paróquia de Flores. Sim, sua fé era sincera, e remonta à educação religiosa que lhe foi dada pelos pais. Antes mesmo de trabalhar na Rádio FLORESCER – FM como operador de técnica, fez locução em programas da Igreja Católica. E foi por causa disso que se tornou voluntário.

Entrou na Emissora para substituir Geo Gomes e, como qualquer voluntário que galgou aquele batente, fez a preleção a ele determinada: ficar em pé olhando, Jonas Ramos e Eddy Silva fazer técnica para si, além de Carlinhos do Alto, Penha Vieira e Adaci Barros.

Mas a locução era seu destino. Diferentemente de quando estava entre amigos, utilizava um estilo e um timbre de voz assombroso, potente e nada parecida com o rapazinho franzino, de óculos fundo de garrafa que chegou à FLORESCER, no início do século e lá ficou durante 18 anos.

A voz foi sua arma de inserção no mundo da radiofonia e das locuções principais em muitos dos eventos municipais que houve em Flores nas últimas duas décadas. Por conta disso, tornou-se garoto-propaganda da Movelar, do exigente Beto de Zé Duro. O primeiro do gênero em Flores, e não parou mais.

Em 2004, foi um dos locutores da campanha vitoriosa de Marconi Santana à prefeitura, substituindo em comícios menores, nada menos que Anchieta Santos. Da Rádio para a política, se elegeu vereador em 2012, repetindo o feito em 2016. Mesmo dentro da política, não deixou suas funções de radialista, trabalhando tanto na FLORESCER, quanto na Rádio Princesa, em Princesa Isabel – PB. 

De posição política definida, defendia com unhas e dentes o mesmo projeto político de sua família, e, através dele, atuou como um dos maiores incentivadores do esporte, sobretudo o futebol, dentro do município. 

Sua voz, ícone da comunicação, tornou-se comum em festas, comemorações e, sobretudo, em marketing comercial, sendo que, junto com Pedro Luiz, Carlinhos do Alto e Eddy Silva, passou a dominar o mercado desse ramo de atividade tanto em Flores, quanto em outras cidades sertanejas. 

Acometido por uma doença que deixa rastros perversos, Alberto fez uma cidade inteira – gregos e baianos – derramarem ao menos uma lágrima, seis dias após ser reeleito para o terceiro mandato, como o quarto vereador mais votado do município de Flores, mesmo estando entubado em cima de uma cama de hospital. 

Existem vários tipos de mortes que caem como uma pancada. A de Alberto, não só caiu como uma pancada brusca, mas com a velocidade de uma doença letal que arrasta pessoas sem perguntar quem é.

Flores é e sempre será capaz de produzir pessoas que se tornam personalidades de importância por habilidades diversas; em Alberto Ribeiro essa habilidade, em detrimento de qualquer outra que ele possa ter tido, foi a VOZ. E essa calou-se no dia 21 de novembro de 2020, mas, seguramente ressoará, ao menos pelos próximos cinquenta, cem anos, nos autofalantes desta cidade e do Sertão do Pajeú, ecoando rio acima, rio abaixo.

Valeu, Alberto. Até mesmo tua intransigência valeu, para a gente compreender o que é a vida. E nela, tu provaste, que é possível viver bem com todo mundo, se aceitando mesmo na adversidade.

Você deu o seu recado e deixa para as atuais e futuras gerações, o exemplo de que, se persistir, consegue chegar ao topo. Você chegou. E deixou sua marca principal ecoando nos ouvidos de todos nós: A VOZ!

Professor e Sócio fundador da Associação Cultural FLORESCER – FM.