CRONICA: Dona Lurdinha: Aristocrata da sociedade florense. Por Adelmo Barbosa

Nós ficamos sem uma verdadeira Dama da sociedade florense. Mas, Dama é um nome apropriado para a aristocracia e essa nem sempre está à disposição do povo. Aristocratas são as pessoas que vivem em um pedestal, tido como nobre e nobreza é algo que faz parte de um padrão social, fino e requintado. Fineza e requinte são sinônimos de luxo e riqueza, de uma condição social de status designado a alguns, apenas. Mas, em uma sociedade de dificuldades, condições de vida simples e, muitas vezes subumanas, de distanciamento de tudo o que satisfaz a vida terrena, nada desses atributos podem ser empregados para alguém que era também simples e humilde, calma e observadora, popular e sociável. Aristocrata, nobre, requintada, fina, humilde, observadora, popular, sociável. Todos esses atributos podem se juntar em alguém que viveu a vida para servir. Assim era dona Lurdinha. Viveu entre lideranças sociais, comunitárias e políticas. De todas, foi apenas a última. Fez política para atender às causas sociais de Flores. Quebrar paradigmas, modificar o curso da história, dar uma nova posição às pessoas e à terra onde nasceu e viveu. Dona Lurdinha viveu o ápice da pinha em Flores, das inúmeras caixas que saíram do armazém do seu marido para as grandes cidades brasileiras, dando oportunidade a crianças e adolescentes de ganharem o seu quinhãozinho. Coisas que hoje, em tempos do “politicamente correto”, não seria correto. Fez parte de uma das mais emblemáticas campanhas políticas que Flores já conheceu em toda a sua vasta história: as eleições municipais de 1992. Dentro de sua casa, viu políticos, engenheiros, técnicos, religiosos e pessoas comuns entraram e sair. Pode-se dizer que era a mulher dos paradigmas, uma vez que acompanhou as mudanças advindas da Constituição de 1988 e a ascensão do seu marido ao posto de maior autoridade do município. Com ele, modificou a saúde e contribuiu com a assistência social em dois períodos de seca: 1993 e 1998-99. Foi em sua gestão como Secretária de Saúde que o Hospital Municipal Genésio Francisco Xavier começou a funcionar, no início dos anos 2000. Como mãe, criou e educou os filhos, formando um, advogado. Como esposa, viveu todas as alegrias e dificuldades calada e solidária de seu marido Arnaldo da Pinha, e como mulher, foi uma das figuras mais importantes do município em todos os tempos. Subverteu a ordem de que ‘lugar de mulher é na cozinha” e, sem deixar suas obrigações caseiras, tornou-se uma das figuras da sala, do escritório, da rua, do sítio, da estrada. Tanto que, em função de sua importância como mulher cidadã e liderança política, chegou à cidade um dia nos braços do povo, literalmente, quando foi tratar um problema de saúde no Recife. Viveu sem se omitir. Viu pessoas entrarem e sair da sua casa durante muitos anos, na luta por uma Flores mais humana e mais justa, até não poder mais. Dona Lurdinha não deixa vácuo na vida de Flores, pois, mesmo sendo esposa de um dos mais populares e conhecidos homens da cidade, foi estrela de si mesma e deixa um legado próprio de mulher política para as atuais e futuras gerações. Sua fibra, espera-se, que se estendida como exemplo e espelho para todas as mulheres de Flores, de não se omitirem, mas de lutar sempre por uma Terra mais digna e humana. Garantindo-se na história não apenas como uma mulher batalhadora, mas como uma mulher corajosa e atuante numa sociedade de homens. Nós não perdemos nada com sua partida, porque, nós ganhamos tudo com a sua história. Para os seus, para nós e para as futuras gerações, podemos dizer que ela faz parte do melhor da história de Flores e entrará para os anais desta terra como uma aristocrata social e verdadeira dama das classes populares. Obrigado, dona Maria de Lourdes Araújo da Silva – Lurdinha de Arnaldo da Pinha.