Poesia de Luto: Morre o contador do repente Valdir Teles.


Valdir Teles, este blogueiro, Poeta Raimundo Borges e o advogado Dr. Pablo Andrada.
A poucos dias ele próprio gravou o seguinte alerta para o coronavirus:

Morreu de infarto fulminante na noite deste domingo (22) o poeta  Valdir Teles, 64 anos.

Valdir esta em sua casa, na cidade de Tuparetama, cumprindo seu dever de cidadão na quarentena pedido pelas autoridades devido a pandemia do Coronavírus.

Valdir Teles era um poeta repentista dos mais consagrados da poesia popular nordestina. Nasceu em Livramento, Cariri paraibano mas foi levado ainda recém nascido para São José do Egito, sertão do Pajeú pernambucano, onde recebeu forte influência da cultura local e teve o primeiro contato com a cantoria de viola. 

Valdir Teles ficou órfão de pai aos 11 anos e como filho mais velho, desde cedo assumiu a responsabilidade de sustentar a mãe e os 4 irmãos, trabalhando como agricultor até os 19 anos, quando resolveu sair do sertão pra tentar a profissão de "operário de firma" na Bahia, chegando ainda a trabalhar em Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso e fazendo bico como retratista nas horas vagas, durante o período que morou na Bahia. Anos mais tarde, o poeta traduziu em versos parte da infância.

Em 1979 regressou ao sertão pernambucano quando em uma cantoria da dupla Sebastião da Silva e Moacir Laurentino no Sítio Grossos em São José do Egito,  foi apresentado aos poetas pelo Mestre das Artes e Poeta Zé de Cazuza, onde teve a oportunidade de mostrar seus dotes poéticos sendo de imediato convidado para apresentar um programa de viola numa rádio da cidade de Patos.

A partir de 1979, quando fixa residência em Patos, inicia a trajetória poética que já se anunciava de grande dimensão para a cultura popular nordestina. Os anos vindouros marcaram a gravação do seu primeiro LP com o poeta Lúcio da Silva pela gravadora Chantecler, a popularização dos maiores programas do gênero, em emissoras como a Rádio Panati e a Rádio Espinharas de Patos, a participação nos grandes eventos da cantoria e o destaque nos congressos e festivais. 

Em 1993 Valdir Teles muda-se para Tuparetama, cidade vizinha a São José do Egito e também situada no alto sertão do Pajéu, região internacionalmente conhecida como a Grécia dos cantadores e o reino imortal da poesia. 

Era Tuparetama destino de todo regresso de Valdir. Apaixonado pelas raízes do pé de serra e fã incondicional de Luiz Gonzaga e Lampião, Valdir trouxe para sua atividade artística reflexos do forró, gravando cinco cds do gênero e se destacando no vaneirão improvisado, que por hobbie divide os estúdios e os pés de parede das comemorações familiares com o grande amigo e irmão Delmiro Barros, celebrado cantor pernambucano.