Bolsonaro ofende jornalista da Folha com insulto sexual e gera reações: ‘Ela queria dar o furo’

Bolsonaro atacou jornalista na saída do Palácio (Carolina Antunes/PR + @camposmello + Twitter/Reprodução)
A jornalista Patrícia Campos Mello, repórter da Folha de S. Paulo, foi ofendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nesta terça-feira (18). O mandatário usou insinuações sexuais ao questionar as apurações feitas por ela sobre o disparo em massa de mensagens. Entidades como a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a ANJ (Associação Nacional de Jornais) repudiam os ataques sofridos pela profissional.
As declarações aconteceram na saída do Palácio da Alvorada, enquanto o presidente estava cercado por apoiadores. Recentemente, em uma comissão parlamentar de inquérito Hans River, ex-funcionário da empresa Yacows, que teria feito o disparo em massa pelo WhatsApp durante a campanha de Bolsonaro, disse que Patrícia se insinuou sexualmente em troca de informações para prejudicar o então candidato. A Folha reuniu provas que comprovam ser mentira essa acusação.
O presidente da República comentou o caso nesta terça. “Olha, a jornalista da Folha, tem mais um vídeo dela aí. Eu não vou falar aqui porque tem senhora do meu lado. Ela falando eu sou a ‘tatata’ do PT”, disse.
Bolsonaro comentou ainda que Patrícia praticou assédio, em troca de informações, para um furo jornalístico. “Ela queria o furo. Ela queria dar o furo [pessoas dão risadas] a qualquer preço contra mim. Lá em 2018, ele já dizia que eles chegavam perguntando ‘o Bolsonaro pagou para você divulgar informações por Whatsapp?'”.
Jair Bolsonaro insultou com insinuação sexual a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha.
A declaração do presidente foi uma referência ao depoimento de Hans River, que trabalhou para uma empresa de envios em massa de mensagens no WhatsApp.
🎥 YouTube/Folha do Brasil
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Patrícia recebe apoio

A Folha, empresa onde Patrícia trabalha, publicou uma nota repudiando a fala de Bolsonaro e destacando que a fala agride todo o jornalismo profissional.
“O presidente da República agride a repórter Patrícia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com a sua atitude. Vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência”.
Além da Folha, entidades de jornalismo manifestaram apoio à Patrícia. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) se solidarizam com a profissional da comunicação.
“A Abraji e a OAB repudiam veementemente a fala do presidente. O desrespeito pela imprensa se revela no ataque a jornalistas no exercício de sua profissão”, disse um dos trecho da nota.
A Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) ressaltaram que a fala de Bolsonaro “buscam desqualificar o livre exercício do jornalismo e confundir a opinião pública”.
As notas podem ser lidas na íntegra abaixo.

Nota da Abraji e da OAB na íntegra:

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e o Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) prestam solidariedade à repórter Patricia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, que nesta terça-feira (18.fev.2020) foi novamente atacada pela família Bolsonaro, dessa vez pelo próprio presidente da República.
A Abraji e a OAB repudiam veementemente a fala do presidente. O desrespeito pela imprensa se revela no ataque a jornalistas no exercício de sua profissão.
Na manhã desta terça, durante conversas com jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente deu a entender que a jornalista Patricia Campos Mello teria se insinuado sexualmente para conseguir informações sobre o disparo de mensagens em massa durante a campanha eleitoral de 2018.
A ofensa propagada por Jair Bolsonaro faz referência ao depoimento de um ex-funcionário de uma empresa de marketing digital dado à CPMI das Fake News, no Congresso. Ao ser ouvido por congressistas, Hans River do Rio Nascimento afirmou que a repórter especial da Folha de S. Paulo ofereceu-se sexualmente em troca de informação.
Naquele mesmo dia (11.fev.2020), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, replicou o absurdo em falas públicas e nas redes sociais. A Abraji se manifestou sobre a tentativa de abalar a honra de uma das mais respeitadas profissionais do país. Outras mobilizações espontâneas da sociedade, incluindo a OAB, também condenaram a ação de um agente público contra profissionais de imprensa.
Com sua mais recente declaração, Bolsonaro repete as alegações que a Folha já demonstrou serem falsas. Na mesma entrevista, Bolsonaro chegou a dizer aos repórteres que deveriam aprender a interpretar textos, assim ofendendo todos os profissionais brasileiros, não apenas a repórter da Folha. As declarações foram transmitidas ao vivo na página de Bolsonaro no Facebook.
Em nota, a Folha de S. Paulo repudiou o episódio. “O presidente da República agride a repórter Patrícia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com a sua atitude. Vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência”, diz trecho do texto.
Os ataques aos jornalistas empreendidos pelo presidente são incompatíveis com os princípios da democracia, cuja saúde depende da livre circulação de informações e da fiscalização das autoridades pelos cidadãos. As agressões cotidianas aos repórteres que buscam esclarecer os fatos em nome da sociedade são incompatíveis com o equilíbrio esperado de um presidente.
Diretoria da Abraji e Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB, 18 de fevereiro de 2020″.

Nota da ANET e da ANJ na íntegra:

“A Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) protestam contra as lamentáveis declarações do presidente Jair Bolsonaro ao ecoar ofensas contra a repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo.
As insinuações do presidente buscam desqualificar o livre exercício do jornalismo e confundir a opinião pública.
Como infelizmente tem acontecido reiteradas vezes, o presidente se aproveita da presença de uma claque para atacar jornalistas, cujo trabalho é essencial para a sociedade e a preservação da democracia.
Brasília, 18 de fevereiro de 2020″.