Ele era peralta mesmo!
Não sei se a vida traz pessoas ao
mundo para encantar por qual motivo. Mas há um sentimento de serenidade quando
se vê ou se ouve falar algo sobre alguém. Irrisório pensar que se deve falar de
todas as pessoas sempre que algo lhes acontecer.
Na crônica “Um Livro para Luan”
eu descrevi o meu sentimento sobre os trinta e três “meninos” da Sétima Série
do ano de 2010, da Escola Estadual Dário Gomes de Lima, no Distrito de Fátima. Um
deles era Weverton. Magricelo, irrequieto, bagunceiro, digamos assim.
Era uma sala de aula com 33
alminhas cheias de vida e de sorriso aberto, barulho ensurdecedor, praxe em
todos as criaturas daquela idade. Só sabe disso quem trabalha em escola, com
pessoas que nem são adolescentes ainda, muito menos são mais crianças. Seja
pelo jeito de agirem, seja pelo jeito de pensar. Pensar: sabe-se lá o que eles
pensam!
Sabe-se apenas que não pensam que
2 + 2 = 4, o que a soma do quadrado dos catetos é igual à soma do quadrado da
hipotenusa. Muito menos que em “obediência” tem acento circunflexo (não,
chapeuzinho) porque é uma paroxítona terminada em ditongo. Essa é, talvez, a única
coisa que eles não pensam.
Da sala, hoje transformada em
comércio, sabia-se que ali era uma porque tinha a básica estrutura que toda
sala de aula deve ter. Apesar da qualidade do quadro, das cadeiras e da sala
mesmo.
Duas coisas chamam a atenção. A
primeira: a liberdade que a vista lhes dava para a praça central, o vai-e-vem de
transeuntes – tudo o que se puder imaginar que passa em uma rua. Portanto, não
preciso descrever.
A segunda: a qualidade dos
estudantes. Mesmo zuadentos, tinham a capacidade intelectual de assimilar
rápido o que o professor conseguia lhes dizer, alternando com rompantes e
pedidos de atenção. Os meus rompantes foram, sem dúvidas, os mais loucos e
errados, talvez.
Alguns seguiram seus projetos.
Catarina (medicina), Vinícius (Engenharia), Samuel (Direito). Os outros, não
sei. Mas Weverton permaneceu o mesmo.
Não era mal-educado. Não, não
era. Não era desrespeitador, também não. Era o que era.
O traço principal ele carregou
pelos seus muito bem-vividos e mal arrebatados 22 anos de vida. A molecagem. A
vida simples. A Boemia. A capacidade de arregimentar para si quem quisesse vir
com ele.
Não sei se ele aprendeu algumas
das letras que lhes ensinei. Ou... tentei ensinar.
O depois da escola foi o mesmo. O
jeito simples de levar a vida, fazer amigos, cultivar amores, correr livremente
nas ruas calçadas ou empoeiradas de Fátima, e dali para todas as cidades, vilas
e povoados da região.
Sua forma de ser era inebriante, abrangente,
arregimentadora. Pessoas simples são assim, se é que se pode chamá-lo de
“simples”.
Ele consumia as pessoas com seu
jeito menino – prefiro mudar e usar esse termo agora. Um menino sabido,
inteligente a seu modo. Mas o que mais se lhe chamava a atenção era o
extrovertimento com o qual fez no dia 7 de dezembro de 2019, algumas centenas
de pessoas chorarem.
Como não era de andar só, levava
consigo quem ele encontrava pelo caminho. E, na última “viagem” Pedro e
Welisson.
Penso o que se passa na cabeça
dos seus contemporâneos de Fátima. Penso o que se passa na cabeça de Dário,
Sueli, Wesley e Wanderson (esse, o oposto do irmão. Calmo e tranquilo). Penso,
e não encontro respostas.
O que fica? O que foi sua marca
registrada. O menino palhaço. O menino moleque. O menino extrovertido. O menino
livre. E mais um monte de “meninos” que viveram dentro dele.
E aquele sorriso, que parece ter
contrariado a medicina. Se a criança tem que chorar quando nasce, ele fez
diferente. Sorriu. Só para contrariar o médico e a enfermeira.
Logo que nasceu, sorriu. E levou
esse sorriso pelos 4 cantos do universo por onde andou. Seu universo que
começou e continuou em Fátima. Não vou usar o termo “terminou”.
As praças das cidades estão
cheias de bustos de pessoas pelos seus feitos. Se sorriso e carisma contarem
como feitos, Weverton merece um busto bem no centro de Fátima, ladeado por
Welisson e Pedro.
De tudo o que você fez. De tudo o
que você plantou, algo não te pertence. Por isso, te pedimos: deixe seu sorriso
conosco, Caroço. Ele não era seu. É NOSSO!
*Professor.