Tucano é suspeito de participar de esquema de corrupção na concessão de rodovias federais
O ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) Foto: Geraldo Bubniak / Agência O Globo
RIO E SÃO PAULO — O ex-governador do Paraná Beto Richa(PSDB) foi preso mais uma vez na manhã desta sexta-feira em seu apartamento, em Curitiba, por volta das 7h. Investigado em um esquema de corrupção na concessão de rodovias no Paranáe acusado de ser beneficário de R$ 2,7 milhões em propinas , Richa é suspeito de obstruir a investigação e tentar influenciar o depoimento de testemunhas.
Além da prisão preventiva de Richa, o juiz Paulo Sérgio Ribeiro, da 23ª Vara da Justiça Federal, também determinou a prisão do contador Dirceu Pupo Ferreira, tido como homem de confiança do tucano. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a mando de Richa, Dirceu tentou mudar a versão de um corretor de imóveis sobre apartamentos comprados pela família do governador supostamente com dinheiro de propina.
No despacho, o magistrado afirma ter indícios de autoria de Richa nos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Além das prisões, foi determinada a apreensão dos celulares de Richa e Ferreira.
No processo que gerou o pedido de prisão desta sexta-feira, o MPF investiga a compra de três imóveis por parte da família Richa entre 2010 e 2013 para lavar dinheiro de propina. Os apartamentos e salas comerciais estão registrados em nome de uma empresa da família, Ocaporã Administradora de Bens.
Segundo a investigação, o contador solicitava que os corretores de imóveis colocassem, nas escrituras, um valor abaixo do que realmente ele pagou. "A diferença era paga em espécie, de forma oculta, com propinas", afirma a investigação.
Pressão sobre testemunha
A obstrução da investigação aconteceu em 8 de agosto do ano passado, segundo o MPF. Naquele dia, Ferreira, o contador de Richa, foi até o escritório de um dos corretores com quem tinha feito negócio no passado, Carlos Augusto Albertini.
A família Richa havia adquirido dois conjuntos comerciais no Edifício Neo Business em Curitiba, com valor declarado de R$ 1,8 milhão. Parte do valor foi paga com outro imóvel. Segundo o corretor que intermediou o negócio, R$ 1,4 milhões foram pagos “por fora” e não foram declarados na escritura.
Ao prestar depoimento, Albertini disse aos procuradores que Ferreira pediu que ele e um vendedor de seu escritório não contassem às autoridades sobre o dinheiro que foi ocultado.
"Ele me pediu que caso, se por um acaso vocês, é... se alguém procurasse ele (o vendedor), pra falar que ele pagou o imóvel somente com o apartamento de Camboriú."
Para o MPF, a atitude do contador teve o objetivo de impedir a descoberta do esquema de lavagem de dinheiro, o que é considerado uma interferência na produção da prova e pode ser usado para justificar a prisão. Os procuradores incluíram Richa no pedido porque entenderam que Ferreira age a mando do ex-governador.
De acordo com o juiz Ribeiro, “o fato concreto apresentado pelo MPF é extremamente grave, evidenciando a tentativa de embaraçar a investigação, o que justifica a decretação da preventiva”.
Esquema de R$ 55 milhões
Embora o processo desta sexta-feira tenha como foco a lavagem de dinheiro por meio da compra de três imóveis pela família Richa, ela faz parte de uma investigação maior sobre um esquema de corrupção em concessões de rodovias no Paraná.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF) a corrupção na concessão de rodovias do chamado Anel de Integração do Paraná gerou dois esquemas de pagamento de propina.
O primeiro começou em 1999, com a distribuição de "mensalinhos" que somaram R$ 35 milhões até 2015. O pagamento de propina durou tanto tempo que chegou a ser atualizado pela inflação - no início do esquema R$ 120 mil eram rateados entre agentes públicos todos os meses; no final, o valor já subira para R$ 240 mil.
Já o segundo esquema indentificado pelo MPF movimentou R$ 20 milhões entre 2011 e 2014. Além da arrecadação do mensalinho, agentes do governo estadual do Paraná cobravam 2% de cada contrato do DER/PR. Este segundo esquema teria beneficiado Pepe Richa, irmão do ex-governador, preso em setembro na Operação Integração II.
O Globo