Se alguém dissesse a Manoel Erinaldo Barros Romão, 39 anos, que ele seria vizinho de um aeroporto que ele mesmo ajudou a construir e que ele trabalharia como o porteiro do campo de aviação, ele não acreditaria. Natural de São José do Belmonte, desde os 4 anos ele mora na zona rural de Serra Talhada, município de 85 mil habitantes no Sertão do estado, a 415 km do Recife.
Manoel só começou a estudar aos 12 anos e aos 15 mudou para o turno da noite para ajudar os pais no trabalho com a roça. Apesar da curiosidade sobre como será a inauguração do Aeroporto de Serra Talhada, o foco dele não está nas viagens e sim na geração de renda para a família. Os sonhos ele deixa para a filha de 3 anos. “Minha expectativa com o aeroporto é trabalhar e tocar em frente, né? Acredito que possa me render uma vida melhor. Tenho uma filha que fará 4 anos, ela deverá aproveitar mais as viagens que eu. Acredito que ela viajará muito morando do lado de um aeroporto”, conta o porteiro.
A casa a que ele se refere faz parte de uma fazenda que o pai dele trabalhou durante 30 anos. Atualmente, vive com a esposa e a filha. “Meu pai trabalhou aqui nessas terras. Essa casa existe há 16 anos e desde que ela está de pé, moro aqui”, afirma. O porteiro já trabalhou como ajudante de caminhoneiro e pedreiro. Ele lembra que o lugar mais longe que viajou foi para levar carga em Maceió. “Nunca vi um avião de perto, o funcionamento dele mesmo. Só tinha visto longe no céu. A primeira vez que vi de perto foi aqui. Muitas pessoas passam aqui na porteira e ficam tirando fotos. Estou ansioso para a inauguração”, afirma.
O aeródromo que Manoel se refere é o Aeroporto Santa Magalhães, em Serra Talhada. Ele já funciona para voos privados. Mas quem deseja viajar em voos comerciais, no momento, se desloca até Juazeiro no Norte (CE), cerca de 200 quilômetros de distância de Serra Talhada. De acordo com o secretário executivo da Secretaria de Transporte, Antônio Cavalcanti Júnior, a previsão é que o aeroporto passe a funcionar, também, com voos comerciais a partir do dia 15 de maio deste ano. “Em termos de infraestrutura, o aeroporto está pronto, inclusive o terminal provisório foi elogiado pela aviação civil. Para que esteja liberado para o funcionamento faltam apenas a Estação Meteorológica de Superfície Remota, a conclusão da terraplanagem da área do aeroporto e a cerca patrimonial”, destaca o secretário.
O início da operação contará com quatro voos semanais operados pela Azul, com a rota Recife/Serra Talhada. Mas a expectativa é de que com o aumento das demandas sejam estabelecidas novas rotas. A pista de voo tem 1,8 mil metros, a capacidade dos primeiros voos comerciais será de 72 pessoas. No momento, além da iluminação e voos noturnos, já existe um caminhão de bombeiros, que chega meia hora antes e sai uma hora depois do voo programado (atualmente somente particulares). O estado locou uma série de containers que são utilizados para a estrutura do aeroporto temporário. Na entrada, é possível visualizar os check-ins, o embarque e desembarque, as cadeiras para espera dos voos, um espaço para alimentação. De acordo com o secretário, ainda neste ano, começa a construção do aeroporto permanente. (DP)
Robério Sá