Fez o teste do gênero oposto no Facebook? Você provavelmente terá cometido um erro


O “Como Você Seria Se Fosse Do Gênero Oposto?” é o teste da vez que está circulando pelo Facebook nos últimos dias. Se você entrou na onda, provavelmente terá cometido o erro de comprometer seus dados pessoais a uma empresa pouco conhecida, e sabe-se lá o que ela fará com eles.

O gancho para atrair usuários é mostrar como a pessoa ficaria se fosse do gênero oposto. Para realizar o teste, a empresa Kueez solicita que você clique em “Conectar-se ao Facebook” para ver o resultado.

Ao fazer isso, a empresa recebe pelo menos as seguintes informações públicas do perfil do usuário:

seu nome
imagem de perfil
data de nascimento
todas as suas fotos e imagens no Facebook
lista de amigos
informações de contato
e endereço de e-mail usado para logar na rede social

A Kueez não é a primeira nem será a última empresa a criar um aplicativo/jogo/quiz de Facebook a pedir tudo isso. No ano passado falamos do “Qual Celebridade Você Se Parece”, um caso bem similar a este aqui.

E se achou pouco, a política de privacidade da empresa além disso diz coletar informações não pessoais de usuários como o modelo do seu celular ou PC com o qual fez o teste, localização e áreas de interesse (no Facebook), entre várias outras coisinhas.

Para que tudo isso? O de sempre: transformar esse monte de informações em dinheiro. Ou, nas palavras da empresa, para “melhorar o site com base em suas preferências e experiências”, “oferecer conteúdos promocionais”, “criar dados estatísticos, modelos comportamentais e tendências” etc.

Como tudo é escrito de forma bastante vaga, esses dados podem ser usados de muitos jeitos. Normalmente é apenas para gerar anúncios personalizados chatinhos, mas inofensivos. Mas neste caso aqui, algumas formas sugeridas pela empresa são esquisitos.

A Kueez diz que pode compartilhar seus dados “com certos terceiros interessados ??em lhe fornecer determinados conteúdos promocionais” ou que sua foto de perfil pode aparecer “como parte integrante dos serviços que oferecemos (quer dizer, sua imagem aparecerá em certos questionários ou jogos, MESMO para pessoas que você não conhece)” –sim, eles colocaram o “MESMO” em caixa alta.

A companhia na verdade uma marca da empresa de Israel Yoto Media Group, então caso você tenha algum contratempo jurídico sobre isso, vai ser complicado até mesmo por se tratar de um negócio fora do Brasil.
Já fiz o teste; me ferrei?

Não exatamente. A Kueez disponibiliza uma ferramenta em seu site para você remover todos os seus dados pessoais do banco de dados deles. Mas não há uma garantia deles de que isso será cumprida; você conta apenas com a palavra deles.

Além disso, você mesmo pode desatrelar seu perfil ao do app no Facebook. Para isso, vá nasConfigurações de Aplicativos do Facebook por este link e depois ache o Kueez e delete o app, clicando no “X”.

Novamente não há garantia de que essas informações já não estejam guardadas no banco de dados da empresa. Mas se você apagar o app, novos dados e arquivos gerados por você a partir de então não serão mais capturados.
Ninguém lê com o que concorda

Uma pesquisa da Kaspersky diz que 63% dos entrevistados dizem não ler o contrato de licença antes de instalar um novo aplicativo.

Alguns desses aplicativos podem afetar a privacidade do usuário, instalar outros apps ou mesmo alterar a configuração do sistema operacional de um aparelho celular ou tablet. E o próprio usuário permitiu isso ao clicar em “aceito” durante o processo de instalação.

Para evitar que suas informações sejam usadas e até mesmo compartilhado por empresas, recomenda-se não aceitar todos os convites para jogos e aplicativos que aparecem nas redes sociais. igualmente leia bem o contrato de termos de uso, verifique frequentemente as configurações de apps de sua conta do Facebook e elimine os que não são mais usados.
Um contratempo até mesmo na política

Durante vários anos, a empresa de dados Cambridge Analytica, contratada pela campanha eleitoral vitoriosa do empresário Donald Trump à presidência dos EUA, vem usando o Facebook como ferramenta para criar perfis psicológicos de cerca de 230 milhões de americanos adultos. A informação é do “New York Times”.

Derivada de uma empresa de consultoria britânica e de um empreiteira de defesa, conhecido por seu trabalho antiterrorismo no Afeganistão, a Cambridge faz isso semeando a rede social com esses populares quizzes de personalidade.

A Cambridge Analytica igualmente esteve na Brexit, a campanha no Reino Unido em que britânicos decidiram, via plebiscito, deixar a União Europeia. Adivinhe em que lado da campanha a empresa estava atuando? Sim, no lado “Leave”, que venceu a disputa.

Segundo uma entrevista do pesquisador Michal Kosinski à revista “Vice”, nossos smartphones são “um vasto questionário psicológico que estamos constantemente preenchendo, conscientemente e inconscientemente”.

Kosinski estuda “big data”, área da computação que lida com imensos e variados bancos de dados gerados por usuários. Ele criou em 2012 o experimento MyPersonality para determinar perfis psicológicos com base nos dados do Facebook, embrião da tecnologia por trás desses quizzes atuais. (Sentido Horário)