
A crise hídrica vai continuar fazendo com que a região Nordeste
produza menos energia nas hidrelétricas do São Francisco. Também trará
problemas para quem depende das águas do Velho Chico a partir de
Sobradinho, na Bahia, o que ocorre com municípios localizados em
Pernambuco, Sergipe e Alagoas. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) já autorizou a Companhia Hidro
Elétrica do São Francisco (Chesf) a fazer testes para que a vazão de
Sobradinho fique em 750 metros por segundo e, posteriormente, 700 metros
cúbicos por segundo. Isso ocorre devido à falta de chuvas na cabeceira
do São Francisco, em Minas Gerais.
"Ainda não começamos os testes, porque estamos esperando uma
autorização da Agência Nacional das Águas (ANA). A vazão só vai diminuir
se não for prejudicar a captação de água para o uso humano nas cidades
de Sergipe e Alagoas", explica o presidente da Chesf, José Carlos de
Miranda Farias. Ele argumenta também que a incerteza com relação às
chuvas é grande. A região onde nasce o São Francisco está passando por
uma estiagem que vai para o quinto ano, sendo a maior desde 1929.
Atualmente, são liberados 800 metros cúbicos por segundo de
Sobradinho. A redução da vazão fará com que as hidrelétricas que a Chesf
tem no São Francisco saiam de uma produção média de 2,5 mil megawatts
(MW) médios para 2,2 mil MW médios. "Isso vai provocar perdas à Chesf,
mas não temos o valor exato agora. O mais importante é poupar a água
para o uso humano", conta José Carlos. Numa situação hidrológica normal,
as hidrelétricas do São Francisco geravam, em média, 6 mil MW médios. O
consumo de todo o Nordeste é de 10,1 mil MW médios.
Ao contrário de 2001, a falta de água nos reservatórios da Chesf
não vai significar racionamento de energia. "Não há qualquer risco de
faltar energia. Temos as eólicas produzindo, várias térmicas que podem
gerar e a região está importando de 35% a 40% de todo o consumo
nordestino diariamente", revela José Carlos.
Para ele, ainda é cedo para falar sobre como ficará a situação
em 2018. No entanto, na semana passada, o Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS) divulgou uma nota técnica defendendo a redução da vazão
do São Francisco e indicando que há cenários em que isso pode ocorrer
até 2018.
"Se chover, tudo isso pode ser alterado. Só temos ideia de como
vai ficar 2018 em abril do próximo ano, quando se encerra o período
chuvoso da região do São Francisco", argumenta José Carlos.
Somente em Pernambuco, as águas do São Francisco são usadas para
o abastecimento humano em 37 cidades do Sertão. A redução da vazão
também pode impactar a agricultura do Vale do São Francisco, incluindo o
polo de fruticultura irrigada de Petrolina-Juazeiro.
A vazão ambientalmente correta de Sobradinho é de 1,3 mil metros
cúbicos por segundo, mas pelo menos desde 2014 a vazão vem sendo
reduzida. Responsável por 60% da água que pode ser usada para gerar
energia no Nordeste, Sobradinho estava com 8,3% do seu volume útil na
última sexta-feira. Na mesma data de 2015, esse percentual era de 5,9%.