Decisão da revista divide opiniões:"Vai ter foto sensual? Não vai ser a Playboy"

O mundo foi pego de surpresa com a decisão da Playboy dos EUA de abolir a nudez de suas páginas a partir de março de 2016. A internet, nem tanto. “As pessoas estão a um clique de qualquer ato sexual concebível, e de graça”, relatou ao New York Times, o presidente executivo da empresa, Scott Flanders. Ao iG, o diretor de redação da Playboy Brasil, Sérgio Xavier Filho, disse que a questão do nu precisa “ser melhor pensada”, mas que a revista é muito mais do que isso.

Iara Ramos, capa da Playboy brasileira de outubro de 2015
Divulgação/Playboy
Iara Ramos, capa da Playboy brasileira de outubro de 2015

“Não sabemos ainda como vai ser o processo nos EUA, não houve qualquer comunicado aos parceiros”, explica o jornalista. “A Playboy tem a tradição de respeitar muito os mercados locais, deixar que cada país decida o que é melhor e como fazer. Lembra que nos anos 70 não tinha nu frontal nem dois seios ao mesmo tempo nas fotos da versão brasileira? Coisas da censura. Acho, pessoalmente, que faz todo sentido o que o Hugh Hefner (fundador da revista) faz, estamos gradativamente perdendo com o nu”, explica.
Capa em julho de 2013, e uma das últimas vendagens acima de qualquer suspeita da revista, Antonia Fontenelle lamenta a decisão da matriz americana. “A internet tirou toda a força do impresso. Vai ter ensaio sensual? Ok, mas não vai ser a Playboy”, disse a loira aoiG.
A musa diz que apenas com famosas na capa a edição brasileira da revista conseguiria evitar a influência da versão americana e o caminho para a obsolência. “Botar na capa qualquer mulher, outras já fazem. Tem a Status que não paga ninguém e coloca as mulheres praticamente peladas na capa”, opina sobre o que chama de “banalização do nu”. Para ela, é preciso buscar patrocínio, mudar gestão e “reinventar o nu”, mas não abrir mão de um dos elementos mais reconhecíveis da publicação.
Editor da Playboy Brasil entre 2006 e 2013, o jornalista Edson Aran concorda que a revista precisa se reinventar, mas acha que o nu não faz parte da equação. “Quando começou, a Playboy (nos EUA) não era apenas uma revista de mulheres nuas, mas uma publicação de estilo de vida, que fazia uma defesa da liberdade como um todo, incluindo a liberdade sexual e a de expressão. Mas lá pelo meio dos anos 90, a fórmula desandou, o conteúdo se perdeu e a revista ficou dependente demais da nudez”, observa.
Antonia Fontenelle na capa da Playboy de julho de 2013
Divulgação
Antonia Fontenelle na capa da Playboy de julho de 2013
Para Aran, não faz sentido com a abundância de nudez e pornografia na web, ter uma revista apostando no filão. “Se a relevância vem daí, então é melhor desistir do jogo e fechar. Agora se, ao contrário, a revista é um ponto de vista, uma ideia, um estilo, então é melhor tirar a nudez, até para que ela não seja vista como essencial”.
Xavier complementa. “A Playboy é uma publicação que discute o comportamento masculino. Tem nas entrevistas longas e profundas uma marca importante. Aran e o atual diretor de redação da revista concordam que o Brasil não deve seguir o ensejo da matriz americana, mas olhar com carinho para o novo modelo. “Se a inflexão da Playboy americana for bem sucedida, o movimento vai apontar um caminho que pode revigorar a marca”, observa Aran. “Mas é claro que não basta só tirar a nudez. Tem que provar que a relevância da revista não está aí. Torço para que eles consigam fazer isso direito. Não vai ser fácil”.
“Precisaremos pensar no ‘como fazer a transição’. Teremos muito o que debater, mas posso te garantir que agora não há nada decidido” assegurou Xavier.
A ex-coelhinha e capa da publicação no Brasil, Thaiz Schmitt não acredita que a eventual mudança enfraqueça a marca. “Entrei para a familia Playboy uma menina e me despedi já uma mulher. O nome Playboy é mais forte que qualquer outro e vai continuar sendo o símbolo máximo da beleza feminina independentemente de ter uma mulher nua em suas páginas".
IG