Bolsonaro monta roteiro de viagens para demonstrar apoio popular e constranger STF

Disposto a mostrar que tem apoio popular para constranger o Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltará ao palanque neste domingo (21), quando pretende reunir milhares de seguidores em um ato público no Rio. A ideia é que a ofensiva continue até às vésperas das eleições municipais, marcadas para outubro.

Quase dois meses após ter participado de uma manifestação nos mesmos moldes na Avenida Paulista, em São Paulo, Bolsonaro vai aproveitar agora a briga entre o empresário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), e o ministro do STF Alexandre de Moraes para tirar dividendos políticos da crise e se apresentar como vítima de perseguição.

Trata-se de uma referência indireta ao relatório publicado por uma comissão do Congresso dos Estados Unidos, na quarta-feira (17), mostrando ordens de Moraes para remover 150 perfis das redes sociais.

O STF informou que os documentos divulgados não são decisões sobre a retirada de conteúdo ou perfis, mas, sim, os ofícios enviados às plataformas para cumprimento da sentença. Nesse capítulo, porém, as ameaças de Musk de não cumprir as decisões de Moraes, chamado por ele de “ditador brutal”, serviram como rastilho de pólvora para incendiar as fileiras da extrema direita.

”Vossa Excelência lembrou que, na virada do século, não existiam redes sociais. Nós já éramos felizes e não sabíamos”, observou Moraes, que também comanda o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), durante a cerimônia de entrega do anteprojeto de reforma do Código Civil ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), realizada na última quarta-feira.

Desde 8 de fevereiro, quando foi deflagrada a operação Tempus Veritatis (Tempo da Verdade), Moraes proibiu o contato entre Bolsonaro e Valdemar. Na ocasião, o dirigente do PL chegou a ser preso pela Polícia Federal por posse ilegal de arma de fogo e guarda de uma pepita de ouro.

As diligências que fecharam o cerco sobre o ex-presidente e militares de seu grupo investigam uma tentativa de golpe no País, em 8 de janeiro de 2023. Apesar de inelegível até 2030, Bolsonaro tem atuado como se estivesse em campanha. Para se contrapor ao movimento do STF e da Polícia Federal, ele vai participar de uma série de manifestações pelo País, a partir deste domingo.

Na lista das cidades que o ex-presidente visitará estão Joinville, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Campo Grande e Vitória. Além disso, tanto ele como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro farão gravações para que os candidatos possam usar nas redes sociais, quando a disputa começar oficialmente.

“O roteiro não está totalmente fechado porque não estou podendo conversar com o Bolsonaro”, afirmou Valdemar. “Inclusive, no Rio, eu não poderei ficar no palanque quando ele estiver lá.” Em Brasília, por exemplo, os dois procuram despachar na sede do PL em dias alternados para não se encontrar. Mas, quando não é possível, um fica no bloco A do prédio e outro, no B.

 Estadão