Mulher negra denuncia racismo após ser acusada de furtar loja e obrigada a abrir bolsa: ‘Me encurralou na parede’

Americanas no Shopping Recife. Nenhum objeto da loja foi encontrado com ela. Mulher negra denuncia racismo nas Lojas Americanas do Shopping Recife

Uma mulher negra de 26 anos denunciou ter sido vítima de racismo por ter sido forçada a abrir a bolsa no meio de uma loja de departamento para provar que não tinha furtado objetos. O caso aconteceu na sexta-feira (1º), dentro da loja Americanas do Shopping Recife, na Zona Sul da capital pernambucana.

Assustada com a abordagem, Ivone Marques da Silva filmou o momento em que precisou mostrar os objetos de sua bolsa e denunciou o caso nas redes sociais (veja vídeo acima). “Sapato do trabalho, minha bolsa, meu desodorante, pasta de dente…”, narrou ela, enquanto esvaziava a mochila no chão.

Ivone trabalha há mais de oito anos como atendente de caixa em um restaurante do shopping e tem o hábito de passar em supermercados e lojas de departamento para comprar comida e itens pessoais depois do expediente. Foi isso que ela disse ter feito ao sair do trabalho na sexta, por volta das 19h15.

“Eu vi que o segurança estava me olhando, achei que era procedimento normal dele. Passou. Quando eu fui para a parte que vende brinquedo, veio um [segurança] na minha frente e do outro lado. Me encurralou na parede. Ele já veio falando: ‘o rapaz lá nas câmeras viu você colocando coisa na sua bolsa’”, contou a vítima.

De acordo com a atendente de caixa, ela estava sozinha durante o momento da abordagem dos dois seguranças. Em meio ao nervosismo e como forma de provar que não tinha furtado nada, decidiu filmar o momento em que teve que esvaziar a mochila.

Em entrevista ao g1, ela contou que já passou por situações de racismo, mas essa foi a primeira vez em que ela teve coragem de denunciar o caso.

“Eu estava com a minha bolsa nas costas, em nenhum momento eu tirei ela das costas e coloquei do lado. Em nenhum momento eu fiz contato direito com a bolsa. Eu estava com a minha carteira na mão e o meu celular. Mexendo no meu celular, pegando algumas coisas, olhando…”, compartilhou a vítima.

Atendente de caixa esvaziou mochila no chão das Lojas Americanas

Questionada pelo g1 se acreditava ter sido vítima de racismo, Ivone disse que sim. Segundo ela, não houve nenhum comportamento que pudesse levar a alguma suspeita além de sua aparência.

“Eu me senti humilhada. Não é a primeira vez, eu já sofri muitas coisas assim por causa da minha cor. Não é de agora, eu sempre deixei passar. Quando eu lembro me dá vontade de chorar. Foi horrível estar ali tirando as coisas da bolsa e todo mundo olhando para você”, disse.

O g1 procurou as Lojas Americanas para perguntar, entre outras coisas, o que motivou a abordagem de Ivone e qual o procedimento padrão para os casos de suspeita de furto, mas a loja não respondeu às perguntas.

Em nota, disse apenas que “lamenta o ocorrido e informa que está tomando as devidas providências”. Afirmou também que “repudia qualquer abordagem que não esteja de acordo com seu Código de Ética e Conduta” e que “realiza constantemente treinamentos com foco na capacitação de seus associados e prestadores de serviço”.

O g1 também procurou a Polícia Civil questionando como o caso será investigado, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.