Papelão no chão como ‘cama’ e varal de roupas improvisado: veja como ficam acompanhantes de pacientes de hospital no Recife

Pedaços de papelão como colchão, sacos plásticos como travesseiros e um varal de roupas improvisado: esse é o cenário encontrado na área externa de uma das principais unidades de saúde públicas do Nordeste, o Hospital da Restauração (HR), no Recife. Sem conseguir abrigo dentro do prédio, mais de 60 acompanhantes de pacientes dormem do lado de fora.

Algumas dessas pessoas dependem de doação para conseguir cobertores, roupas e comida. Imagens registradas pela TV Globo mostram um acompanhante de paciente utilizando um saco plástico para se cobrir, na parte externa do hospital localizado no bairro do Derby, na área central da cidade.

A diarista Alcione Ferreira mora no bairro da Iputinga, na Zona Oeste do Recife, mas decidiu ficar do lado de fora do Hospital da Restauração porque não tem condições de fazer o trajeto de ida e volta todos os dias para visitar a filha, que está internada no local.

“Ela tem 15 anos e eu não posso acompanhar minha filha… é absurdo isso. O jeito é ficar aqui, aguardando qualquer notícia. Desde o momento que eu a socorri, eu não durmo”, disse Alcione.

Para dormir, a diarista montou uma cama improvisada com papelão no chão. Ela contou que aproveita o horário de visita para tomar banho.

“Cadê os políticos? A gente dá um voto de confiança, e confiando em quê? Só dá para confiar em Deus. Eu estou aqui com esse sentimento desumano, como se a gente fosse um lixo”, afirmou Alcione.

O HR é referência em diversas especialidades, o que faz com que pessoas de outros estados procurem atendimento no local. É o caso de Marinalva da Silva, que mora em Antônio Gonçalves, na Bahia, e viajou 860 quilômetros até o Recife para acompanhar a mãe, que teve um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico.

Marinalva precisou arrumar um cobertor, pois o que tinha trazido, ela deu para a mãe, que está internada no hospital. “Só trouxe um cobertor, e era para mim, porque eu achava que paciente não precisava, mas não tinha nenhum para ela”, disse.

Assim como Marinalva, a diarista Gildete Gomes de Lima também saiu da Bahia, onde mora na cidade de Juazeiro, para acompanhar o esposo, internado no HR.

“Quando eu vim, me disseram: ‘Você vai sabendo que lá tem que ficar na rua, não pode ficar acompanhante'”, contou Gildete. A diarista também afirmou que deixa de tomar café para economizar o dinheiro para conseguir almoçar.

Na época, o HR disse que que o local não permitia acompanhantes de pacientes internados na emergência, na unidade de trauma, nas UTI e na sala de recuperação, como qualquer outro hospital do Brasil, seja público ou privado.

O que diz a Secretaria de Saúde

A secretária de Saúde de Pernambuco, Zilda Cavalcanti, disse que “a situação não é nova” e que maioria das pessoas que estava na área externa do Hospital da Restauração na hora em que a reportagem da TV Globo esteve no local são pessoas em situação de rua e que este problema envolve diversos fatores e ações multidisciplinares.

"A maior parte dos que estavam ali não são acompanhantes de pacientes do Hospital da Restauração. São pessoas em situação de rua. Das quatro pessoas entrevistadas na reportagem, duas eram da Bahia. Por que elas estavam aqui? Porque o HR é uma referência na área de neurocirurgia. É importante que os baianos possam procurar Salvador”, disse Zilda Cavalcanti, destacando que o HR é referência no Norte e Nordeste e, por isso, pessoas de outros estados vêm para Pernambuco.

A secretária estadual de Saúde disse ainda que a maior parte dos pacientes que estão em enfermaria fica com acompanhantes e pessoas de outros municípios, ou de outros bairros da cidade do Recife, que não tenham onde se hospedar, ou recursos para pagar o transporte, podem procurar o Serviço Social do Hospital da Restauração e serão orientadas a procurarem as casas de apoio das prefeituras e podem receber recursos para o transporte dentro da cidade.

“Só não ficam com acompanhantes os que estão na UTI e na Sala Vermelha. As crianças em UTI pediátrica também ficam com acompanhantes. (…) Na realidade, uma das pessoas entrevistadas ali é de um bairro do Recife, da Iputinga. O Hospital da Restauração tem um serviço social que pode atender essas pessoas e inclusive tem verba para auxiliar pessoas nessa situação”, disse Zilda Cavalcanti.