5 ANOS SEM JONAS RAMOS - Por Adelmo Barbosa*



Naquele 28 de setembro, uma notícia bombástica nos foi dada. Era noite de domingo, e quase ninguém acreditou. Afinal, a trágica morte de Jonas Ramos da Silva, não poderia ser verdade. Ele podia ter diversos adjetivos negativos, contudo, para uma pessoa do seu naipe, não constava o de irresponsável, menos ainda com a própria vida. Daí a interpretação como tragédia.
Jovem futurista (posso dizer assim), inteligente (também posso), irreverente, divertido, visionário. Todos são adjetivos positivos de uma pessoa que, de uma humilde, mas respeitada comunidade no extenso município de Flores, tornou-se um dos mais conhecidos cidadãos desta Terra, e, mais ainda, sem perder a simplicidade, marca de sua rápida e produtiva passagem pelo mundo.
Falar de Jonas Ramos não é devaneio, muito menos bajulação. É fato. Viveu uma vida digna, como é obrigação de qualquer ser humano, e, no momento que recebeu a missão de servir, serviu. Profissional exemplar. Colega dinâmico. Instrutor exigente. Foram algumas de suas características mais marcantes. Viveu pouco para o muito que fez, mas, seguramente, se pudesse falar sobre sua história, diria que sua missão foi completa.
Não era de resmungar fatos passados, nem remoer derrotas. Aceitava-as, sabe-se lá como, e, como diz o dito popular, era de “Levantar a cabeça, sacodir a poeira e dar a volta por cima”. Por isso, diria sim, que seu tempo foi cumprido. Mesmo assim, vale indagar: havia mesmo a necessidade de continuar vivendo? Ou sua passagem se completou no tempo certo? Ambas as respostas são, Sim! Para não pairar dúvidas, coisa que ele detestava.
Viveu com intensidade os seus dias. De sua infância não é possível falar muita coisa, mas, a julgar pela juventude, seguiu o mesmo traçado. Aos 21 anos, na seca de 1998-1999, comandou uma turma com cerca de 30 homens e mulheres nas frentes de trabalho. Pouco depois, descoberto por Monsenhor Assis Rocha, tornou-se responsável pelo serviço de som da Matriz de Nossa Senhora da Conceição (responsável mesmo, porque, com padre Assis não tinha meio termo), e fez parte do grupo de cântico da Igreja, ao lado de Penha Vieira e outros animadores, nas missas dominicais.
Mas o seu grande salto ocorreu no finalzinho do ano de 1999, quando assumiu – iniciante e sozinho – o controle técnico da Rádio FLORESCER – FM. Por quinze dias, até a chegada de Tony PC, ficou botando a Rádio no ar. Eram tempos rudes: um tamborete, um toca cds, e um toca-fitas, através do qual passava os apoios culturais. Depois chegou o aparelho de md (mini-disc). Não tinha computador nem programas de última geração que deixa a rádio funcionando por dias inteiros sem a necessidade de um operador. Era preciso estar lá enquanto a Rádio estivesse no ar.
Abria às 6h da manhã e fechava às 6h da noite, initerruptamente de segunda a domingo. O café vinha da Casa Paroquial. O almoço idem. Assim, ele conduziu a mesa de som durante o período em que esteve sozinho na Emissora. Por lá passaram alguns dos maiores comunicadores do Rádio no Pajeú: Nill Júnior, Aldo Vidal, Celso Brandão, Carlos Pessoa, Carlos Filho, Evandro Lira e Anchieta Santos, seu Mestre e de todos os que, como ele, começaram com a Emissora no início dos anos 2000.
Dividiu a responsabilidade da mesa, primeiro com Tony PC e Eddy Silva, mais à frente Geo Gomes, Alberto Ribeiro, Cleiton Silva e Admilton Jeffeson(Bicudo). Enquanto transitavam pelos microfones, pessoas como o próprio Anchieta Santos, Marquinhos Dantas, e os companheiros de locução: Carlinhos do Alto, Eddy Silva, Penha Vieira, Adaci Barros, Alberto Ribeiro, Cleiton Silva e Adelmo Silva. Posteriormente, Lucicleide Duarte e Edrícia Santos (suas discípulas).
Anos mais tarde, decidiu mudar de ambiente e foi trabalhar na Triunfo – FM, uma emissora também comunitária, conduzida por dona Ítala, exigente profissional do rádio. Fez sucesso, mas retornou à FLORESCER e, num gesto de ousadia, resolveu estendê-la para o horário noturno. Foi também locutor oficial das campanhas de Soraya Morioka (2008) e Luiz de Zé Duro (2012), candidatos a Prefeito de Flores.
Jonas era um amante das coisas boas da vida: uma cerveja entre amigos, uma boa música, roda de conversa, espaços livres, família, religião, fé, Deus. Se esqueci alguma coisa, me desculpem. Trabalhando no SESC – Triunfo, ajudou a divulgar um tema pouco comum nas cidades sertanejas: a cultura. De difícil penetração nas grandes massas por conta do modismo enlatado dos grandes centros urbanos importado sem limites. Fez campanha de popularização dos poetas sertanejos, vindos principalmente de Tabira e São José do Egito, os dois maiores berços da poesia pajeuzeira.
Em seus programas, divulgava poemas de Dedé Monteiro, Cancão, Iponax Vilanova, Amazan e outros tantos, sempre recheados com músicas de Alcimar Monteiro, Delmiro Barros, Sebastião Dias, Os Nonatos, entre outros. Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Trio Parada Dura, Tonico e Tinoco, Chitãozinho e Xororó eram presença constante em seus programas. Nos seus horários, a música “Revolta” de Nelson Gonçalves, parecia sucesso de ícone em início de carreira “bombando” na mídia.
Mas nada substituía sua dupla favorita: Zezé di Camargo e Luciano. Prova maior de seu “amor” musical pela dupla foi o sucesso que abriu a Rádio há 20 anos – “Chega”. Perfeccionista como era, gravou hora e minuto da estreia do primeiro grande Veículo de comunicação florense: 5 de dezembro de 1999, às 5h03min da tarde. Sabia disso porque era Ele que estava operando a mesa APEL da nova “febre” florense.
Ainda de seu amor pela cultura popular, ficou registrada a turnê que fez com poetas, repentistas e glosadores do Pajeú pelas cidades da região, fazendo parada obrigatória nas Escolas e na Praça central de Flores, mostra clara de sua visão cultural. Morando em Triunfo a partir de 2008, tornou-se presença constante na vida cultural da cidade, e referência como radialista e funcionário do SESC. As inúmeras manifestações de pesar quando da sua partida, confirmam essa afirmativa.
Jonas se foi, mas deixou uma história. Seu corpo repousa em um mausoléu do Cemitério Jardim da Saudade, na margem da PE 320, e seu espírito voou para junto de Deus. Na crônica que fiz logo que soube de sua trágica morte naquele domingo, 28 de setembro de 2014, próximo a Jericó, disse uma frase contundente e pedi desculpas pelas palavras, mas, como ninguém contestou, reescrevo-a aqui: “Só errou uma vez na vida, se é que assim posso dizer, e que me perdoem os leitores: ele partiu muito novo”. Contudo, sua alma continua viajando por esses recantos sertanejos. Onde quer que tenha uma pessoa cantando, uma criança sorrindo, alguém tocando violão, ou em um dedo de uma boa prosa com os amigos, ela estará lá. Por que Jonas era assim: presença constante em tudo o que é vida.
Jonas foi “Nosso Irmão Primeiro”, pois, foi o primeiro a cruzar o batente da Rádio FLORESCER – FM. Lamentavelmente, também o primeiro a partir... há 5 anos.


*Professor e sócio fundador da Associação Cultural FLORESCER – FM.